A Di Santinni anunciou, nesta quarta-feira (17/7), a aquisição da Capodarte, rede de calçados premium anteriormente administrada pelo Grupo Paquetá, que saiu de uma recuperação judicial no ano passado. A negociação, que durou menos de dois meses, envolveu um investimento de cerca de R$ 36 milhões, incluindo 42 lojas franqueadas no Brasil, quatro no exterior e uma fábrica em Sapiranga (RS).
Em entrevista à PEGN, Artur Tchilian, presidente da Di Santinni, revelou que a empresa buscava formas de expandir seu portfólio e alcançar um novo público-alvo. Atualmente, a Di Santinni atende majoritariamente clientes da classe C, mas com a aquisição da Capodarte, pretende também alcançar as classes A e B. “Entendemos que tem muita sinergia com o nosso negócio”, afirmou Tchilian. Especialistas consultados pela PEGN destacam que, apesar dos desafios para reposicionar a marca, a Capodarte ainda possui um forte valor de mercado.
Segundo Tchilian, não há planos para incorporar a Capodarte; as marcas continuarão atuando de forma independente. No entanto, a Capodarte terá seu backoffice integrado ao da Di Santinni, visando padronizar processos e oferecer suporte aos franqueados. Inicialmente, todos os 76 funcionários da Capodarte serão mantidos. “Quem sabe fazer sapato vai continuar com a gente.”
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Tchilian acredita que o segmento classe A é menos impactado pela concorrência dos marketplaces asiáticos e oferece um negócio mais estável e duradouro para o grupo. A ideia é permitir que franqueados da Di Santinni possam abrir operações da Capodarte, diversificando os ganhos.
“Certamente, dentro do Grupo Paquetá foi a marca que menos sofreu. Não deu tempo de machucar a marca para o consumidor. Algumas lojas tinham poucos produtos, coisas desse tipo, mas na cabeça do consumidor ainda permanece a imagem e a confiança na marca”, observou Tchilian.
A empresa pretende focar em três pilares iniciais: o desenvolvimento contínuo de novas coleções, uma estratégia de marca com comunicação robusta e a melhoria da experiência do cliente com um novo projeto de loja. O plano é relançar a Capodarte no mercado em até 90 dias. “Nosso intuito é cuidar muito bem da marca e restaurar o prestígio junto aos franqueados e consumidores”, declarou Tchilian.
Grupo Paquetá reduz ativos para cortar custos
O Grupo Paquetá, detentor de marcas como Ortopé e Dumont, entrou com um pedido de recuperação judicial em 2019, devido a dívidas de R$ 638,5 milhões com fornecedores, bancos e encargos trabalhistas. No ano passado, os sócios fizeram um aporte de R$ 7,3 milhões para evitar a falência, encerrando o processo de tutela. Mesmo assim, a empresa tem se desfazido de ativos, incluindo duas fábricas no Ceará vendidas para a Arezzo&Co e lojas próprias repassadas para o Grupo Oscar, além da Capodarte, agora adquirida pela Di Santinni.
Expansão da Capodarte prevê 90 lojas até 2026
A Capodarte tinha um plano de expansão que deve ser mantido após a aquisição. A rede pretende atingir 60 lojas até o final de 2025 e 90 até 2026. Desde o início da crise, a empresa fechou mais de 40 pontos de venda. “Tem muitas praças importantes em que ela não está mais, e certamente aparecerão franqueados interessados nesse novo momento”, avaliou Tchilian.
Nos últimos anos, a Di Santinni investiu fortemente em tecnologia, desenvolvendo o sistema DS Smart, que oferece produtos personalizados com base em IA e automatiza operações. O sistema permite que o pedido feito pelo vendedor seja recebido pelo estoquista, que encaminha o produto diretamente para o cliente, reduzindo o tempo de atendimento.
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A Di Santinni anunciou recentemente um investimento de R$ 3 milhões para aprimorar suas ferramentas tecnológicas e desenvolver novos produtos. Tchilian afirmou que os franqueados da Capodarte ficaram “animados” com a possibilidade de adotar essas tecnologias. “Se conseguimos atender uma loja de alto fluxo com uma experiência melhor, imagina em uma loja com um fluxo mais comedido. Não vou dizer que será mais fácil, mas com a volumetria menor, vamos conseguir atender muito bem”, disse.
Desafio de reposicionamento e concorrência
Especialistas consultados pela PEGN destacam que a Di Santinni terá um grande desafio pela frente, mas a Capodarte tem potencial para competir com grandes marcas do seu nicho. “A origem da Capodarte em São Paulo era sempre de algo muito fashion, superantenada com o momento. No [Grupo] Paquetá isso se perdeu, eles acabaram fazendo duas marcas muito parecidas, e Dumont e Capodarte se canibalizaram”, comentou Celina Kochen, consultora de varejo e franchising de moda e coordenadora do comitê de franquias de vestuário, calçados e acessórios da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), afirmou que a Capodarte ainda tem um nome forte e potencial, mas exigirá um trabalho dedicado da Di Santinni em estratégias de produto e marketing para alavancar o negócio. “Quando se compra uma marca, ainda mais uma marca ‘adormecida’, que passou por um contexto turbulento, o ativo vem mais forte pela marca em si do que tudo que a compõem”, concluiu o especialista.
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