Pesquisadores da Universidade de St. Andrews, no Reino Unido, resolveram um enigma que intrigava cientistas por quase dois séculos. A equipe identificou o vulcão Zavaritskii, localizado na ilha desabitada de Simushir, no Pacífico, como o responsável por uma erupção devastadora em 1831 que resfriou o planeta e desencadeou crises alimentares em diversas regiões.
A investigação utilizou amostras de cinzas preservadas em núcleos de gelo da Groenlândia para rastrear a origem do evento. Até então, acreditava-se que o vulcão estivesse em áreas próximas à Linha do Equador, como o Babuyan Claro, nas Filipinas, ou até mesmo na Sicília, Itália, onde a Ilha Ferdinandea emergiu brevemente no mesmo período.
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A erupção do Zavaritskii lançou quantidades massivas de dióxido de enxofre na estratosfera, reduzindo a temperatura média do Hemisfério Norte em até 1°C. Esse resfriamento brusco teve consequências severas, incluindo colheitas arruinadas, fome e agitação social, especialmente em países como Índia e Japão.
Eventos dessa magnitude são característicos de erupções plinianas, conhecidas por sua violência e pelo volume de cinzas e gases expelidos na atmosfera. O nome remete a Plínio, o Jovem, que documentou a erupção do Vesúvio em 79 d.C.
A devastação climática foi registrada em diários e cartas da época. Um exemplo é a descrição de Felix Mendelssohn, compositor alemão que estava nos Alpes quando a erupção ocorreu. “Tempo desolador, choveu de novo a noite toda e a manhã toda, está tão frio como no inverno, há neve já profunda nas colinas mais próximas…”, escreveu ele.
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O estudo, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, destaca que o Zavaritskii era ativo há séculos, com registros de erupções anteriores datando de 800 a.C. A descoberta reforça a importância de compreender eventos vulcânicos no contexto das mudanças climáticas globais e seus impactos sociais.
Essa revelação não apenas resolve um mistério geológico, mas também ilumina os efeitos de desastres naturais no curso da história humana.