A crescente popularidade de vídeos curtos, presentes em plataformas como TikTok e Instagram, tem levantado preocupações entre especialistas sobre os impactos desse formato na saúde mental. Com conteúdos variados e de rápida duração, como coreografias, receitas e tendências, o consumo prolongado desse tipo de mídia pode levar à chamada “putrefação cerebral” — expressão traduzida do inglês brain rot, escolhida como “palavra do ano” pelo Dicionário de Oxford.
O termo descreve a sensação de exaustão mental após horas de exposição a estímulos rápidos e repetitivos. Segundo a psicóloga Larissa Fonseca, doutoranda pela Unifesp, esse consumo sobrecarrega o sistema de recompensa do cérebro, dificultando a concentração e aumentando a impulsividade.
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O neurologista Raphael Ribeiro Spera, especialista em neurologia cognitiva, explica que o excesso de estímulos visuais e sonoros, combinado à liberação constante de dopamina, intensifica a necessidade por novidades. “O algoritmo alterna entre diferentes temas que você gosta, como esportes, música ou humor, mantendo o cérebro preso a um ciclo de busca por estímulos constantes”, detalha Spera, membro da Academia Brasileira de Neurologia.
Entre os principais efeitos apontados por especialistas estão:
- Fadiga mental: o cérebro luta para processar informações rápidas, causando confusão e sensação de esgotamento.
- Redução da concentração: o córtex pré-frontal, responsável pelo foco e pela regulação emocional, é sobrecarregado, comprometendo atividades mais complexas.
- Saturação de dopamina: a exposição contínua a pequenas recompensas prejudica a capacidade de engajamento em tarefas mais longas.
Para combater os efeitos negativos, a psicóloga Larissa Fonseca recomenda limitar o uso dessas plataformas e reduzir gradualmente a exposição aos vídeos curtos. Essa prática, segundo ela, interrompe o ciclo de superestimulação, ajudando a recuperar a sensibilidade do sistema de recompensa.
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Fonseca também destaca que o design dessas plataformas é pensado para capturar a atenção do usuário em poucos segundos, dificultando o controle do tempo de uso. “Os vídeos são planejados para engajar rapidamente, tornando o uso viciante e desafiando o autocontrole”, afirma.
Quando questionado sobre medidas como a proibição do uso de celulares em escolas, Raphael Spera compara a resistência inicial a mudanças sociais com situações como a adoção do cinto de segurança ou a proibição de fumar em ambientes fechados. “Essas transições são difíceis no início, mas acabam se tornando normas aceitas com o tempo”, reflete o neurologista.
O impacto dos vídeos curtos na saúde mental segue sendo tema de estudo, mas especialistas já concordam que a moderação e o uso consciente das plataformas são passos essenciais para evitar prejuízos duradouros.