A vastidão da internet esconde uma realidade preocupante: um estudo realizado pela BigDataCorp em parceria com o Movimento Web para Todos revelou que menos de 3% dos sites brasileiros são acessíveis para pessoas com deficiência. A pesquisa, que analisou 26,3 milhões de sites ativos, revelou que apenas uma fração mínima deles cumpre os padrões de acessibilidade.
O levantamento, na sua quinta edição, excluiu sites inativos e protegidos por senha, concentrando-se em páginas públicas. “Os testes foram aplicados de acordo com o conteúdo de cada site, verificando formulários e imagens, entre outros critérios”, explicam os organizadores do estudo.
A análise foi dividida em cinco categorias: formulários, estrutura e organização de links, descrição e estrutura de imagens, frames (iFrames) e teste W3C. Os resultados mostraram uma piora na acessibilidade: em 2024, apenas 2,9% dos sites atendiam aos requisitos de acessibilidade do consórcio W3C, uma queda em relação aos anos anteriores.
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Dentre os tipos de sites, o estudo apontou que as plataformas governamentais continuam apresentando as maiores deficiências, com nove em cada dez sites do governo enfrentando problemas de acessibilidade, embora a situação tenha melhorado um pouco desde 2022.
Entre os sites que demonstraram melhores condições, destacam-se:
- Educacional: 3,9%
- Corporativo: 3,7%
- Notícias: 3,4%
- E-commerce: 3%
- Blog: 2,7%
O relatório também revelou que muitos sites falharam em testes específicos. Por exemplo, 97,6% apresentaram problemas na verificação do código HTML pelo W3C, enquanto 84% falharam na organização de links. A análise dos campos de formulário e botões mostrou uma taxa de 49,6% de problemas, e a estrutura de frames apresentou 15,3% de falhas.
Thoran Rodrigues, CEO da BigDataCorp, explica que a disparidade entre os testes mais segmentados e a análise W3C se deve à complexidade e ao escopo mais abrangente do teste do W3C: “É um teste mais detalhado e rigoroso, o que faz com que muitos sites não passem”.
Leonardo Gleison, engenheiro de software com deficiência visual, compartilha sua frustração com a falta de acessibilidade na web: “É muito frustrante quando serviços essenciais não estão acessíveis. Imagine precisar acessar um serviço do governo ou fazer uma compra e não conseguir devido à falta de acessibilidade”.
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Camila Domingues, pedagoga e professora cega, destaca os desafios enfrentados ao tentar se inscrever em cursos online: “Muitas vezes, os formulários de inscrição não são acessíveis e, mesmo quando peço ajuda, os ambientes virtuais e materiais didáticos também são inadequados”.
A especialista em diversidade e inclusão Nathalia Blagevitch, com mobilidade reduzida, expressa seu descontentamento com situações que exigem manipulação complexa de dispositivos: “Ter que tirar uma selfie com um documento ou validar algo com movimentos específicos é extremamente complicado para mim”.
Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos, aponta que a conscientização, a capacitação e o acompanhamento contínuo são essenciais para melhorar a acessibilidade online. Ela destaca que a acessibilidade é um direito garantido pela Lei Brasileira de Inclusão e que há uma grande oportunidade de mercado não explorada.
Freire também enfatiza que ajustes de acessibilidade podem melhorar a performance dos serviços e que é uma obrigação moral para as empresas comprometidas com práticas de Diversidade e Inclusão (ESG). A capacitação envolve preparar equipes para criar produtos digitais acessíveis, e o acompanhamento deve ser contínuo para manter a cultura de acessibilidade dentro das empresas.
Rodrigues sugere que as plataformas de tráfego na web devem priorizar sites acessíveis, como aconteceu com os certificados SSL, que tiveram um grande aumento de adoção em menos de um ano. “Se um movimento similar fosse feito para acessibilidade, a situação poderia melhorar rapidamente”, conclui.
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